George Zucco … Dr. Lloyd Clayton / Dr. Elwyn Clayton
Mary Carlisle … Gayle Clayton
Nedrick Young … Dr. David Bently
Dwight Frye … Zolarr
Fern Emmett … Kate
Robert Strange … Wilkins [Harper, in credits]
Hal Price … Delegado
Sam Flint … Pastor
Jimmy Aubrey … Homem da cidade (sem créditos)
Merrill McCormick … Homem da cidade (sem créditos)
Rose Plumer … Townswoman (sem créditos)
Al St. John … Townsman who finds Kate’s body (sem créditos)
Forrest Taylor … The Evil One (introduction) (sem créditos)
Idioma: inglês
LEGENDAS:PORTUGUES [NA PASTA]
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Apesar da referência no título do post, não vou sacanear com a
"Saga Crepúsculo" porque, convenhamos... qualquer piada sobre a "obra" é
obsoleta. Vou, ao invés disso, fazer algo construtivo: enaltecer um
filme que tentou uma fazer uma "nova abordagem" sobre vampiros com muito
mais inteligência que a Stephenie Meyer. Em 1943. Com, aparentemente,
um orçamento de 10 dólares. Estou apenas chutando, é claro. O filme pode
ter custado menos. Mas merece ser visto.
Dead Men Walk ("Mortos que Andam", surpreendente título
brasileiro que consegue, simultaneamente, ser fiel ao original e fugir
do ridículo) é uma produção da Producers' Releasing Corporation (mais ou
menos o equivalente da década de 1940 aos picaretas da Asylum - se
fosse hoje, o filme provavelmente se chamaria "Vrácula 2012" ou algo
semelhante) que, ao invés de plagiar o "Drácula" da Universal, parte de
uma premissa bastante original e, ao mesmo tempol, fiel ao folclore
eslavo.
Apesar de se tratar, em minha opinião, de um bom filme, a pobreza da produção conduz, evidentemente, à inevitável presença do fator trash, que já se faz presente antes dos créditos de abertura: A história começa com um tomo, intitulado "History of Vampires", sendo jogado em uma lareira. Nas chamas, surge o supracitado fator trash: o rosto de um indivíduo anônimo e descabelado (será o Satanás?), ridicularizando a nós, "criaturas da luz" por não acreditarmos em lendas macabras, tais como, por exemplo, bruxas, lobisomens, e, é claro, VAMPIROS! O monólogo é bem risível: o descabelado fala o tempo todo em um tom de desprezo e superioridade, usando um linguajar rebuscado e pretensioso (ao invés de criatura das trevas, ele poderia ser um "crítico profissional de cinema"). E o visual do "palestrante" sobreposto à lareira parece coisa concebida pelo Ed Wood.
Apesar de se tratar, em minha opinião, de um bom filme, a pobreza da produção conduz, evidentemente, à inevitável presença do fator trash, que já se faz presente antes dos créditos de abertura: A história começa com um tomo, intitulado "History of Vampires", sendo jogado em uma lareira. Nas chamas, surge o supracitado fator trash: o rosto de um indivíduo anônimo e descabelado (será o Satanás?), ridicularizando a nós, "criaturas da luz" por não acreditarmos em lendas macabras, tais como, por exemplo, bruxas, lobisomens, e, é claro, VAMPIROS! O monólogo é bem risível: o descabelado fala o tempo todo em um tom de desprezo e superioridade, usando um linguajar rebuscado e pretensioso (ao invés de criatura das trevas, ele poderia ser um "crítico profissional de cinema"). E o visual do "palestrante" sobreposto à lareira parece coisa concebida pelo Ed Wood.
Náo é um devorador de fogueiras que vai me convencer de que vampiros existem...
Após o discurso sobre "Mistérios do Desconhecido" e os créditos, começa a
narrativa, no enterro de Elwyn Clayton (George Zucco, veterano
coadjuvante de filmes de monstro da Universal), que, ao que tudo indica,
já foi tarde: no meio do velório o padre/pastor é interrompido por Kate
(Fern Emmett, outra coadjuvante profissional). A senhora fica
horrorizada com o fato de Elwyin, um "servo do demônio", cujas mãos
estão "manchadas com o sangue de inocentes", estar sendo sepultando como
um bom cristão. A véia doida leva um chega-pra-lá do ministro, que a
expulsa da igreja e pede desculpas ao irmão gêmeo do falecido, Dr. Lloyd
Clayton (adivinha por quem ele é interpretado? Pelo irmão gêmeo do
George Zucco? Não! Ele também é interpretado pelo Zucco, pois, por
incrível que pareça, naquela época eles já tinha tecnologia [espelhos e
edição] que viabilizavam a interpretacão de dois personagens pelo mesmo
ator). Este, contudo, não parece guardar nenhum ressentimento pelas
acusações da maluca.
Outro indício de que Elwyn não era o indivíduo mais querido das
redondezas é mostrado após o enterro, quando, ante o sepulcro, Lloyd
conversa com a filha do defunto, Gayle (Mary Carlisle) e o namorado
desta, o também médico David Bentley, sobre seu nada saudoso irmão. Após
comentar que espera que o defunto encontra na morte a paz que nunca
encontrou em vida, o bom doutor passa a, com um tom enganosamente
austero, descer o pau no irmão, afirmando que este era sinistro e
detestado desde criança e que, após uma viagem à Índia, o mesmo ficou
obcecado por demonismo e passou a desprezar "tudo que é caro aos homens
decentes" (como certos escritores anglo-saxônicos
que conheço, o Dr. Loyd parece nutrir uma certa suspeita [ou, como
prefiro colocar, racismo escroto] contra gente de pele mais escura).
Depois de, delicadamente, destruir a imagem do falecido ante a filha
deste, Dr. Lloyd vai à casa deste, tocar fogo no acervo bibliotecário do
irmão. Tudo indica que era ele quem estava jogando o livro na lareira
no início do filme.
É então que a verdade sobre o óbito de Elwyn Clayton começa a surgir,
tornando duvidoso o caráter do supostamente compassivo e sensível Dr.
Lloyd: a destruição dos livros é interrompida por Zolarr (Dwight Frye,
interpretando, novamente, o Renfield, só que com outro nome), discípulo
do falecido, que acusa o médico de estar destruindo uma coleção de valor
inestimável e de ser responsável pela morte de seu mestre, que,
oficialmente, sofreu um acidente e caiu de um penhasco. Lloyd alega ter
praticado o ato (já está admitindo!) em "legítima defesa", mas o capacho
do feiticeiro não engole a conversa: ele insiste que o médico seguiu o
irmão até o local da queda desta, com a intenção de cometer o homicídio.
O argumento do bom doutor é mais suspeito ainda: ao invés de insistir
com a história de "legítima defesa", ele simplesmente observa que o
Zolarr "não vai convencer ninguém disso". É impressão minha ou o
venerável Dr. Lloyd Clayton está, basicamente, dizendo para o corcunda
não encher o saco, porque, embora tenha matado o irmão, ninguém pode
provar. Sério, o cara nem se deu ao trabalho de inventar que o irmão foi
morto por um "cara porto-riquenho"?
Pouco a pouco, o doutor começa a parecer pior que o O.J. Simpson, que
pelo menos não se defendeu alegando simplesmente que "vocês não podem
provar nada contra mim!" O concurda, indignado, afirma que o véio vai
pagar pelo que fez.
Pouco depois, o médico é informado pela sobrinha que esta aceitou o
pedido de casamento do namorado e o júbilo é geral. Sinceramente, esse
pessoal todo está me parecendo muito acanalhado. A moça parece tem toda a
elegância e timing da Susana Von Richthofen: o presunto de seu genitor
mal esfriou e ela já está feliz da vida porque vai desencalhar? Como já
disse antes: se minha família fizer esse tipo de escrotice depois de
minha morte, vou assombrar geral! Brincadeira, eu sei que isso não vai
acontecer: ao contrário do que todo mundo que me conhece pensa, eu sou,
como o Ra's Al Ghul, imortal.
Na mesma, noite, Zolarr, provando que era o único amigo do falecido,
exuma este, abre o caixão e chamando seu mestre. Que levanta.
Senhoras es senhores, meninos e meninas, uma salva de palmas para Elwyn Clayton!
E o "plano infalível" do vilão também faz bastante sentido: ao contrário
dos monstros da maioria de filme de vampiro, ele aproveita mesmo
o fato de ninguém acreditar em tais criaturas em seu favor. Quando a
saúde da Gayle começa a fraquejar e seu tio explica ao noivo da moça que
suspeita se tratar de uma doença de cunho sobrenatural, a reação
natural do jovem médico, ao contrário do Dr. Seward, é concluir que o
Lloyd está perigosamente desequilibrado e procurar a polícia. Quando o
moço finalmente é convencido de que a noiva, de fato, está sendo vítima
de vampirismo, a merda já está feita: o boato vaza, toda a vila acha que
o médico está louco e provocando a morte da sobrinha (pois ninguém
acredita em vampiro, mas todo mundo achava Elwyn um pervertido
psicopata, não sendo surpresa que seu irmão seja também maluco). Para
tornar a coisa ainda mais feia, Elwyn começa a praticar maldades em
público, com o objetivo, evidentemente, de que que a culpa recaia sobre
seu irmão gêmeo. Tudo isso leva os "líderes da comunidade" a reunir um
turba para linchar o Dr. Lloyd (mostrando, mais uma vez, que nada é mais
perigosamente imbecil que a multidão), enquanto o médico tenta salvar a
sobrinha e destruir o vampiro satanista de uma vez por todas. Tudo
conduz a uma conclusão bastante coerente, que amarra todas as pontas e
não apela para nenhum golpe baixo.
Atenção: não estou dizendo que Dead Men Walk é uma obra-prima. Longe disso. Tirando o George Zucco e o Dwight Frye, todas as interpretações são péssimas, executadas com aquele inconfundível semblante de "só estou aqui para pagar as contas". Os cenários deixam evidente que a produção contou com um orçamento muito limitado. A trilha sonora é genérica para filmes de horror da época. A abertura do filme é muito trash e os monólogos vilanescos de Elwyn Clayton, embora declamados com inegável verve por Zucco, frequente e hilariantemente descambam para o camp. Ainda assim, trata-se de um filme acima da média, dirigido com competência e, por vezes, com bastante estilo e com uma bela fotografia em preto-e-branco, que acentua a natureza gótica da trama. Até onde eu sei, seu roteiro é singular na abordagem do vampirismo. Nenhum dos personagens assume comporamentos implausíveis, o que já torna o filme superior a 90% do cinema de terror. A história é concisa, com uma duração de 63 minutos. E, o melhor de tudo, o filme está em domínio público e você pode vê-lo de graça, no YouTube. Só para mostrar como sou um cara legal, eis o vídeo abaixo:
Isso mesmo: como recompensa pelos bons serviços prestados, Shaitan
resolveu presentar seu servo com o dom da imortalidade, transformando-o
num vampiro! E sim, esta é, segundo o folclore romeno, uma das formas de
alguém se tornar um um morto-vivo:
tendo sido um blasfemador contumaz em vida. O que, confesso, me deixa
bastante satisfeito. Afinal, quando adolescente, eu era o tipo de ateu
escroto que gostava de ridicularizar a fé dos outros só pra me aparecer.
Agora, descubro que isso pode render frutos: caso o folclore romeno
esteja correto, tornar-me-ei um nosferatu após a morte. E, cara,
eu vou ser muito foda: nada de "vampiro atormentado que respeita a
santidade da vida" - eu vou ser um monstrolão badass, casca-grossa, aterrorizante, tipo aquelas criaturas de 30 Dias de Noite.
Mas continuarei postando aqui pelo resto da eternidade, de modo que
todo mundo ficará feliz. Até minhas vítimas, que transformarei no meu
exército de vampiros e usarei para finalmente me tornar o Palpatine dos
trópicos. Mwuahahahahaha! Aposto que a pessoa que me acusou de fascista,
agora, deve estar se borrando de medo. E com razão, pois está fodida.
Mas planejarei minha carreira de vampiro mais tarde. Continuemos com o
filme.
Como o Drácula do Mel Brooks, Elwyn está morto e feliz, porém ainda
bastante fraco. Faz-se necessária, pois, uma refeição. Numa cena que não
faria feio ao lado de filmes expressionistas alemães, o morto-vivo
caminha por entre os túmulos e, na cena seguinte, adentra o quarto de
uma jovem anônima, que se torna sua primeira vítima.
Sem nenhum sarcasmo: as imagens acima são dignas de posar ao lado do Nosferatu de Murnau. |
Em um toque de edição supreendentemente eficaz para uma produção da PRC, a cena termina com um fade to black
e temos, em seguida, uma transição para o mesmo quarto, durante o dia,
uma semana depois (conforme exposto pelo diálogo), onde o irmão gêmeo
está declarando o óbito da moça, perplexo - no lapso de uma semana, o
status da moça mudou de "completamente saudável" para "morta por perda de sangue".
Evidente, pois, que Elwyn já superou sua fraqueza inicial. O que ele não
superou foi a raiva que sente do irmão, que, de fato, o matou. O
vampiro, agora bem alimentado e cheio de moral, vai visitar seu mano,
dar-lhe um esporro por tê-lo assassinado (sim, tudo o que Zolarr disse
sobre a morte de seu mentor era verdade!) e mostrar que tal escrotice de
nada valeu, pois ele continua em plena forma. Mas, como o que vale é a
intenção, Elwyn explica tranquilamente ao irmão que vai destrui-lo
lentamente, fazendo-o perder tudo que ama antes de uma morte sórdida, e
que vai começar pela própria filha, Gayle, que é uma candidata
ideal para ser discípula do vampiro. E o que o respeitável Dr. Lloyd
alega em sua defesa? Que, além de ser uma ameaça à "pureza teológica" da
filha, digamos, assim, seu irmão conduzia um estilo de vida ofensivo a
tudo que é decente e sagrado. Então, vejamos se eu entendi bem: Elwyn
Clayton viajou para o exterior, adotou uma religião exótica e estava
planejando apresentar a filha a tal religião (nada mais natural que um
pai entusiasmado com sua nova fé queira compartilhar suas convicções
religiosas com a própria familia). E foi por isso que seu supostamente
decente irmão o assassinou? Repare que, apesar de toda a conversa mole
da Kate (que, não custa lembrar, é uma pessoa de sanidade, no mínimo,
duvidosa), não fica demonstrado, em momento algum, que, antes de virar
vampiro, Elwyn tenha feito mal a alguém. Sinto muito, mas vou tomar
partido do satanista/vampiro. Cada vez mais, o Dr. Lloyd está me
parecendo uma versão fuleira do Torquemada.
É, doutor, tenho certeza que o Judiciário engoliria essa defesa: "matei
mesmo, Excelência, mas a religião dele era esquisita". Apelando, ele
saca uma arma (porra, que tipo de médico guarda um revólver no
consultório? Ele é avô do John McCabe?) e mete bala no irmão. Naturalmente, sem nenhum efeito.
Elwyn Clayton, sendo foda |
Cara, o "Muahahahaha" no final da cena é totalmente massa e, ao mesmo
tempo, hilário. E o Zucco mostra que, de fato, estava sendo subutilizado
pelos grandes estúdios: ele interpreta o "mocinho" e o "vilão" usando o
"método Clark Kent" (sem tirar nem por: a única diferença entre Lloyd e
Elwyn é que um usa óculos e tem o penteado diferente) e ainda assim
logra duas caracterizações muito distintas de forma extremamente
convincente. Em momento algum, o espectador vai ter dúvidas a respeito
de qual Clayton está em cena. E a maneira escolhida pelo ator para
interpretar o morto-vivo também é bastante criativa: ao invés de
macaquear o Bela Lugosi, como se poderia esperar de um filme de vampiro
de uma produtora de fundo-de-quintal, o vampiro criado por Zucco lembra
uma versão mais sinistra do Lex Luthor do Gene Hackman: um supervilão
brilhante, cheio de planos fodásticos e se divertindo à beça com toda a
maldade. Com um plus: ao contrário do Luthor, Clayton tem um
capanga razoavelmente competente. Zolarr faz algumas besteiras, mas
todas compreensíveis e nada que o faça parecer um comic relief debilóide.
Atenção: não estou dizendo que Dead Men Walk é uma obra-prima. Longe disso. Tirando o George Zucco e o Dwight Frye, todas as interpretações são péssimas, executadas com aquele inconfundível semblante de "só estou aqui para pagar as contas". Os cenários deixam evidente que a produção contou com um orçamento muito limitado. A trilha sonora é genérica para filmes de horror da época. A abertura do filme é muito trash e os monólogos vilanescos de Elwyn Clayton, embora declamados com inegável verve por Zucco, frequente e hilariantemente descambam para o camp. Ainda assim, trata-se de um filme acima da média, dirigido com competência e, por vezes, com bastante estilo e com uma bela fotografia em preto-e-branco, que acentua a natureza gótica da trama. Até onde eu sei, seu roteiro é singular na abordagem do vampirismo. Nenhum dos personagens assume comporamentos implausíveis, o que já torna o filme superior a 90% do cinema de terror. A história é concisa, com uma duração de 63 minutos. E, o melhor de tudo, o filme está em domínio público e você pode vê-lo de graça, no YouTube. Só para mostrar como sou um cara legal, eis o vídeo abaixo:
É original em inglês, sem legendas. Vejam-no. Vale a pena. E, se alguém
que não falar inglês estiver realmente interessado em assistir, deixe
uma mensagem. Tenho uma cópia do filme com (péssimas) legendas em
português e qualidade de imagem inferior, mas é melhor que nada. Se
alguém quiser ver, coloco no YouTube.
Olá amigo, eu tenho as legendas em espanhol perfeitamente sincronizados com a versão que está no meu blog, se alguém estiver interessado.
ResponderExcluirSaudações
Tudo bem ?
ResponderExcluirGostaria de fazer parceria ?
filmelixo.blogspot.com
Abraço
Com certeza,fique a vontade para reupar ou adicionar ao seu blog qualquer arquivo.
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