Sinopse: Ana, uma jovem estudante, é contratada como babá de duas crianças que vivem com a família em uma mansão no meio de um imenso vale. Deixada sozinha com o menino e a menina, e também com o vigia, a babá começa a receber insistentes telefonemas ameaçadores durante a noite, entrando numa espiral de pânico com conseqüências trágicas - principalmente quando descobre que os telefonemas são feitos DE DENTRO DA CASA!
Em DVD
-
1974 (Mundial)
Direção:
Roteiro:
Elenco: Eliezer Gomes (Augusto)Fernando Amaral (Rodrigo)Lilian Lemmertz (Raquel)Pedro Coelho (Marcelo)Selma Egrei (Ana)menos⬆
Países de Origem:
Estreia Mundial:
1974
Estreia Brasil:
1974
Como muito bem já observou o pesquisador Renato Luis Pucci Jr, a idéia
corrente de que o cineasta Walter Hugo Khouri se repetia em seus filmes
diz respeito a uma impressão, por vezes superficial, que se tem de uma
parte de seu trabalho, voltada aos dramas pessoais do recorrente
personagem Marcelo. Como mostra Pucci Jr., há uma parte menos conhecida
da cinematografia de Khouri que se afasta dos dramas de seu famoso
“alter-ego” e trilha outros caminhos – às vezes notadamente femininos,
como se pode perceber em suas duas fitas de horror.
Quando apresentado apenas em seu plot resumido, o filme pode parecer bastante simples em sua narrativa. Mas, bem à maneira de Khouri, O ANJO DA NOITE foge às interpretações simples, sugerindo algumas ambigüidades que contribuem para a atmosfera de mistério e de estranhamento. Por exemplo, o interior da casa onde moram as crianças assemelha-se muito ao de um esquife, o que leva a própria Ana a deitar-se no meio da sala, imaginado-se morta, antes dos telefonemas começarem.
http://www.filmologia.com.br/?page_id=6480
A
primeira delas, O ANJO DA NOITE, foi produzida em 1974, pelo paulista
Antonio Pólo Galante e os cariocas Gilberto Brocchi e Luis de Miranda
Correia, e filmada no Rio de Janeiro, na cidade serrana de Petrópolis.
Inspirada numa lenda urbana importada dos EUA, a fita, estrelada por
Selma Egrei, contava a história de Ana, jovem estudante contratada como
babá de duas crianças que vivem com a família em uma mansão no meio de
um imenso vale. Deixada sozinha com o menino e a menina, e também com o
vigia (interpretado por Eliezer Gomes), a babá começa a receber
insistentes telefonemas mudos durante a noite, entrando numa espiral de
pânico com conseqüências trágicas: os telefonemas são dados pelo próprio
vigia, que, num acesso de loucura, mata a todos.
Quando apresentado apenas em seu plot resumido, o filme pode parecer bastante simples em sua narrativa. Mas, bem à maneira de Khouri, O ANJO DA NOITE foge às interpretações simples, sugerindo algumas ambigüidades que contribuem para a atmosfera de mistério e de estranhamento. Por exemplo, o interior da casa onde moram as crianças assemelha-se muito ao de um esquife, o que leva a própria Ana a deitar-se no meio da sala, imaginado-se morta, antes dos telefonemas começarem.
Com
isso, o poder mortal da casa fica sugerido, num reconhecimento das
matrizes góticas, com suas casas malditas. Também o personagem do menino
Marcelinho, claramente apaixonado pela babá, é suspeito de fazer as
ligações, recusando-se a dormir ao longo de toda a madrugada, e
contribuindo para a perturbação de Ana. Com a presença de Marcelinho, a
relação entre o assassino a os telefonemas se torna menos segura e, mais
uma vez, o ambiente da casa é que parece sugerir a violência.
Entretanto,
é na figura do vigia que o filme apresenta sua principal ambigüidade:
no começo da história, este é apresentado como um homem extremamente
simpático e servil, mas, ao longo da noite, vai se tornando, num
processo muito sutil, cada vez mais ousado e monstruoso, o que culmina
no surto de violência que sofre ao amanhecer.
Embora este não pareça ser o principal objetivo de Khouri, é possível dar uma interpretação política e racial ao acontecimento narrado, pois o vigia, que é o único personagem negro, parece sentir-se dominado e amedrontado por forças ancestrais que exalam da casa – uma mansão no meio da cidade mais aristocrática do Brasil. Nesse sentido, ao tematizar a latência de conflitos passados concentrados numa casa rica e vazia em meio à natureza selvagem, O ANJO DA NOITE faz uma operação bastante comum nas histórias de horror clássicas, derivadas da ficção gótica: relacionar a monstruosidade ao que é, literalmente, estrangeiro e fisicamente diferente de um ambiente bem delimitado (no caso, o próprio ambiente da casa e de seus moradores).
Embora este não pareça ser o principal objetivo de Khouri, é possível dar uma interpretação política e racial ao acontecimento narrado, pois o vigia, que é o único personagem negro, parece sentir-se dominado e amedrontado por forças ancestrais que exalam da casa – uma mansão no meio da cidade mais aristocrática do Brasil. Nesse sentido, ao tematizar a latência de conflitos passados concentrados numa casa rica e vazia em meio à natureza selvagem, O ANJO DA NOITE faz uma operação bastante comum nas histórias de horror clássicas, derivadas da ficção gótica: relacionar a monstruosidade ao que é, literalmente, estrangeiro e fisicamente diferente de um ambiente bem delimitado (no caso, o próprio ambiente da casa e de seus moradores).
Evidentemente, não
se quer, aqui, tratar o filme de Khouri como parábola ou alegoria da
questão racial no Brasil. O que se quer, apenas, é apontar a aparente
consciência de seu roteirista/diretor em relação a essas possibilidades
simbólicas das histórias de horror – as quais ele conhecia bastante bem,
conforme afirmou em diversas entrevistas ao longo de sua vida, como a
que reproduzo abaixo:
Khouri - O meu fascínio pelo clima fantástico, pelo irreal e pelo insólito vem desde as minhas leituras de infância e continuou pela adolescência e pela idade adulta, aí já abrangendo todos os domínios da arte literatura, artes plásticas em geral e, naturalmente, cinema. Desde muito cedo me familiarizei e me apaixonei também por autores como Edgar Allan Poe, Henry James, ... Sheridan Le Fanú e também Lovecraft, além de uma infinidade de outros. (In: FERREIRA, FSP, 05/03/1979)
Esse conhecimento declarado de Khouri a respeito das histórias clássicas de horror também pode levar a uma outra suposição – neste caso, relativa à inspiração literária direta para o filme. Afinal, a presença das duas crianças e da babá ameaçadas por empregados numa casa isolada já fôra o mote de um clássico da literatura de horror do século XIX: A Outra Volta do Parafuso, do escritor inglês (citado por Khouri) Henry James (1843-1916), e levado ao cinema por Jack Clayton, em OS INOCENTES (1961).
Khouri - O meu fascínio pelo clima fantástico, pelo irreal e pelo insólito vem desde as minhas leituras de infância e continuou pela adolescência e pela idade adulta, aí já abrangendo todos os domínios da arte literatura, artes plásticas em geral e, naturalmente, cinema. Desde muito cedo me familiarizei e me apaixonei também por autores como Edgar Allan Poe, Henry James, ... Sheridan Le Fanú e também Lovecraft, além de uma infinidade de outros. (In: FERREIRA, FSP, 05/03/1979)
Esse conhecimento declarado de Khouri a respeito das histórias clássicas de horror também pode levar a uma outra suposição – neste caso, relativa à inspiração literária direta para o filme. Afinal, a presença das duas crianças e da babá ameaçadas por empregados numa casa isolada já fôra o mote de um clássico da literatura de horror do século XIX: A Outra Volta do Parafuso, do escritor inglês (citado por Khouri) Henry James (1843-1916), e levado ao cinema por Jack Clayton, em OS INOCENTES (1961).
A
presença dos telefonemas misteriosos também nos remete a histórias mais
modernas, como o primeiro episódio de AS TRÊS MÁSCARAS DO TERROR
(1963), IL TELEFONO, de Mario Bava, no qual uma bela mulher (Michele
Mercier) começa a receber telefonemas ameaçadores ao longo da noite de
pavor.
Por aproveitar-se das normas do gênero de forma tão
autoconsciente, e por relacionar-se com obras de horror de diferentes
épocas e estilos, O ANJO DA NOITE pode ser considerado um dos filmes
mais sofisticados desse gênero já realizados no Brasil. Mesmo assim, não
fez sucesso significativo nas bilheterias – ou, pelo menos, nada consta
a este respeito.
Em compensação, obteve
reconhecimento em pelo menos dois festivais importantes pelos quais
passou: o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Sitges, em
1974, na Espanha, que lhe concedeu a Menção Especial do Júri; o II
Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, em 1975, que o premiou com os
“kikitos” de Melhor Direção para Khouri, de Melhor Direção de Fotografia
para Antonio Meliande e de Melhor Ator para Eliezer Gomes.
Ficha técnica completa da Cinemateca Brasileira do filme O ANJO DA NOITE (1974), de Walter Hugo Khouri.
Muito interessante , não tinha ideia da existência desse filme nacional !!!! Gostei,boa sorte no Blog!!!
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